A Procissão I: Significado, Tradição e Importância na Cultura Portuguesa
Na pequena vila de São Brás, a procissão anual em honra do padroeiro era o evento mais aguardado do ano. As ruas estreitas enfeitavam-se com flores e bandeiras, e o ar carregava o perfume do alecrim e do incenso. As pessoas reuniam-se em frente à igreja, vestindo as suas melhores roupas, enquanto os sinos tocavam num ritmo solene. Era um momento de devoção, mas também de encontros furtivos, de olhares que se cruzavam por entre o véu da tradição.
Maria, uma jovem de olhos castanhos e cabelos negros como a noite, estava entre a multidão. Vestia um vestido modesto, mas o tecido ajustava-se ao seu corpo de tal forma que não passava despercebida. Caminhava ao lado da mãe, segurando uma vela acesa, mas os seus pensamentos estavam longe dali. Há semanas que trocava olhares com João, o carpinteiro da vila, durante a missa. Ele era mais velho, de mãos calejadas e um sorriso que a fazia tremer por dentro. Hoje, sabia que ele estaria na procissão, carregando o andor.
Quando a procissão começou, Maria sentiu o coração acelerar. O som dos tambores ecoava nas ruas, misturando-se com os cânticos dos fiéis. João estava à frente, com os ombros largos tensos sob o peso do andor. Ela observava-o de relance, admirando a força dos seus braços e a maneira como o suor lhe escorria pela nuca. De repente, ele virou-se e os seus olhares encontraram-se. Foi apenas um instante, mas foi o suficiente para que o calor se espalhasse pelo corpo de Maria.
À medida que a procissão avançava, Maria começou a sentir uma tensão crescente. O som dos tambores parecia ecoar dentro dela, acompanhando o ritmo acelerado do seu coração. Quando a procissão passou por um beco estreito, João afastou-se discretamente do grupo e desapareceu na escuridão. Maria hesitou por um momento, mas o desejo era mais forte. Deixou a vela com a mãe, murmurando uma desculpa, e seguiu-o.
No beco, João esperava por ela, encostado a uma parede de pedra. Sem dizer uma palavra, puxou-a para si, e os seus lábios encontraram-se num beijo ardente. As mãos dele deslizaram pelo seu corpo, explorando cada curva sob o vestido modesto. Maria sentiu-se viva como nunca, cada toque dele acendendo uma chama que a consumia por dentro. O som distante da procissão tornou-se um murmúrio, e o mundo exterior desapareceu.
Ali, naquela rua estreita, entre a tradição e o pecado, Maria e João encontraram-se num momento de pura paixão. Era um segredo que guardariam para sempre, um momento que desafiava as convenções mas que, de alguma forma, parecia tão natural quanto a própria procissão. Quando finalmente se separaram, Maria regressou à multidão, o rosto corado e o coração acelerado. A procissão continuava, mas ela sabia que, naquele ano, o significado da tradição tinha ganho um novo e proibido sabor.