Abusando da Sorte: Como Reconhecer e Evitar os Riscos do Excesso de Confiança
Abusando da Sorte: Como Reconhecer e Evitar os Riscos do Excesso de Confiança
Naquela noite, o ar estava carregado de uma energia que só se sente quando o destino parece estar a jogar a nosso favor. Sofia, uma mulher de trinta e poucos anos, sentia-se invencível. Tudo na sua vida parecia alinhar-se perfeitamente: o trabalho, os amigos, a sua autoestima. E, naquela festa, o olhar intenso de um homem desconhecido fez com que a sua confiança atingisse novos patamares.
Ele chamava-se Miguel, e havia algo nele que a atraía de forma irresistível. Alto, de olhos escuros e um sorriso que prometia segredos, ele parecia saber exatamente o que dizer para a deixar curiosa. Sofia, habituada a ser o centro das atenções, deixou-se levar pela conversa, pela proximidade, pela forma como ele a fitava como se ela fosse a única pessoa na sala.
— Pareces alguém que gosta de correr riscos — disse ele, com uma voz suave que arrepiava.
— Talvez — respondeu Sofia, com um sorriso provocador. — Mas só quando sei que vale a pena.
Miguel riu, e aquele som ecoou dentro dela. Sentia-se segura, no controlo da situação. Afinal, era ela quem decidia até onde as coisas iam. Ou, pelo menos, era isso que pensava.
A noite avançou, e com ela a intimidade entre os dois. Sofia, embriagada pela sua própria confiança, ignorou os pequenos sinais que, mais tarde, reconheceria como alertas. A forma como ele insistia em beber mais, como tocava nela de forma um pouco mais firme do que ela esperava, como parecia sempre a ditar o ritmo da interação. Ela justificou tudo com o facto de estar a viver o momento, de estar a ser espontânea.
Quando ele a convidou para irem para um lugar mais privado, Sofia hesitou por um instante. Mas a voz na sua cabeça, aquela que a convencia de que ela era invencível, sussurrou-lhe que estava tudo bem. Que ela sabia o que estava a fazer.
O quarto de hotel era luxuoso, e o ambiente ainda mais intenso. Miguel beijou-a com uma paixão que a deixou sem fôlego, e Sofia entregou-se, confiante de que estava a viver uma noite que jamais esqueceria. Mas, à medida que as coisas avançavam, ela começou a sentir-se desconfortável. A forma como ele a tratava, como parecia ignorar os seus limites, como a pressionava a ir mais além do que ela estava disposta.
— Espera — disse ela, tentando afastar-se. — Acho que devíamos parar.
Mas Miguel não parou. A sua expressão mudou, e aquele homem que parecia tão encantador revelou-se alguém completamente diferente. Sofia sentiu-se presa, assustada, e percebeu, num momento de clareza aterradora, que tinha abusado da sua sorte. Que a sua confiança excessiva a tinha levado a uma situação da qual não sabia como sair.
Felizmente, o instinto de sobrevivência falou mais alto. Com uma força que nem sabia que tinha, Sofia conseguiu afastá-lo e sair daquele quarto. Tremendo, com o coração a bater descontroladamente, ela percebeu que tinha escapado por pouco. Mas também percebeu que tinha aprendido uma lição valiosa.
A confiança é uma coisa maravilhosa, mas quando se transforma em excesso de confiança, pode levar-nos a subestimar os riscos e a ignorar os sinais de perigo. Sofia prometeu a si mesma que nunca mais deixaria que a sua autoestima a cegasse. Que aprenderia a reconhecer os limites, a ouvir a sua intuição, a proteger-se.
E, naquela noite, enquanto caminhava sozinha pelas ruas silenciosas, Sofia sentiu-se grata por ter escapado ilesa. Mas também sentiu-se mais sábia. Porque, por vezes, a sorte pode ser uma aliada, mas abusar dela pode levar-nos a situações das quais não conseguimos voltar.