O Veneno da Prostituição: Tudo pelo Dinheiro? Impactos e Consequências
A noite caía sobre a cidade como um véu pesado, carregado de promessas e segredos. As luzes dos candeeiros tremeluziam, refletindo-se nas poças de água que se acumulavam nas ruas estreitas. Era ali, naquele bairro esquecido pelo tempo, que Sofia vivia a sua dupla vida. De dia, uma estudante aplicada, de óculos e blusas discretas. De noite, uma figura envolta em sombras, de saltos altos e olhar desafiador.
O dinheiro era o seu veneno, o seu vício. Não o dinheiro em si, mas o que ele representava: a liberdade, a fuga, a possibilidade de um futuro diferente. Cada nota que recebia era um passo em direção a uma vida que ela acreditava merecer. Mas o preço era alto, e Sofia sabia disso. Cada cliente era um risco, cada encontro uma roleta russa emocional.
Naquela noite, o cliente era diferente. Chamava-se Eduardo, e não tinha o ar desesperado ou vulgar dos outros. Era alto, de olhos escuros e um sorriso que parecia esconder segredos. Quando ele a abordou, Sofia sentiu algo que há muito não sentia: curiosidade.
— Quanto? — perguntou ele, com uma voz suave que contrastava com a aspereza da pergunta.
Sofia hesitou por um momento, mas depois disse o preço, como sempre fazia. Eduardo concordou com um aceno de cabeça e seguiu-a até ao quarto alugado que ela usava para os encontros.
O quarto era pequeno, com paredes descascadas e um cheiro a mofo que nunca desaparecia. Mas naquela noite, parecia diferente. A presença de Eduardo enchia o espaço, transformando-o em algo quase íntimo. Ele sentou-se na cama, observando-a enquanto ela se despia com movimentos precisos, como se fosse uma dança que já tinha repetido mil vezes.
— Porque fazes isto? — perguntou ele, de repente.
A pergunta apanhou-a desprevenida. Ninguém lhe perguntava isso. Os clientes não queriam saber das suas razões, dos seus sonhos, dos seus medos. Queriam apenas o que tinham pago.
— Dinheiro — respondeu ela, com um encolher de ombros. — Como toda a gente.
Eduardo não disse nada, mas o seu olhar era penetrante, como se conseguisse ver através da fachada que ela tinha construído com tanto cuidado. Ele levantou-se e aproximou-se dela, tocando-lhe o rosto com uma suavidade que a fez estremecer.
— E se eu te dissesse que há outras formas de ganhar dinheiro? — sussurrou ele, os lábios quase a tocar os dela.
Sofia sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Havia algo naquele homem que a atraía, algo que ia além do físico. Mas ela não podia deixar-se levar. Não podia esquecer o que estava em jogo.
— Não há — respondeu ela, afastando-se dele. — Para mim, não há.
Eduardo não insistiu. Em vez disso, começou a beijá-la, devagar, como se estivesse a saborear cada momento. Os seus beijos eram diferentes, cheios de uma intensidade que Sofia não estava habituada a sentir. Ela tentou resistir, tentou manter-se distante, mas era impossível. O corpo dela respondia ao dele, traindo-a.
Quando ele a levou para a cama, foi com uma mistura de desejo e algo mais, algo que ela não conseguia definir. Cada toque, cada carícia, era como um veneno que se infiltrava no seu sangue, intoxicando-a. Sofia sabia que aquilo era perigoso, que se estava a deixar levar por algo que podia destruí-la. Mas naquele momento, não conseguia parar.
No final, quando ele se vestiu e lhe entregou o dinheiro, Sofia sentiu um vazio que nunca tinha sentido antes. O dinheiro já não parecia suficiente. O veneno tinha feito o seu efeito, e ela sabia que nunca mais seria a mesma.
Eduardo saiu sem dizer uma palavra, deixando-a sozinha no quarto escuro. Sofia olhou para o dinheiro que tinha na mão e sentiu uma onda de náusea. Era isso que ela queria? Era isso que valia a pena?
O veneno da prostituição não era apenas o dinheiro. Era a perda de si mesma, a erosão da sua alma. E Sofia sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria de enfrentar as consequências das suas escolhas.
Mas, por agora, havia apenas a noite, e o silêncio, e o vazio que o dinheiro nunca conseguiria preencher.