O Veneno da Prostituição: A Transa que Era para Ser Maravilhosa e os Seus Impactos
O quarto estava envolto num morno crepúsculo, as cortinas de seda bege filtravam a luz do final da tarde, criando um ambiente íntimo e convidativo. Sofia, deitada na cama, sentia o coração acelerado, o pulsar das veias a ecoar nos ouvidos. Ele estava ali, ao seu lado, o corpo nu e quente, a pele macia como veludo. Era suposto ser perfeito, maravilhoso, uma noite que ficaria gravada na memória como um tesouro. Mas algo estava errado.
— Estás bem? — perguntou ele, a voz rouca, os dedos a percorrerem-lhe o braço com uma suavidade que deveria ser reconfortante.
Sofia assentiu, mas a mentira pesava-lhe na garganta. Como podia estar bem quando o corpo dela parecia estar a traí-la, quando o prazer que devia sentir se transformava num vazio profundo? Era suposto ser fácil, natural. Ela tinha feito isto tantas vezes, tantos homens, tantos corpos. Mas agora, com ele, era diferente. Ou pelo menos devia ser.
Ele aproximou-se, os lábios a roçarem-lhe o pescoço, o hálito quente a fazer-lhe estremecer. Sofia fechou os olhos, tentando mergulhar naquele momento, tentando esquecer tudo o resto. Mas as memórias insistiam em regressar, como fantasmas que não a largavam. As outras vezes, os outros homens, as outras cenas. O dinheiro que trocava de mãos, o sorriso forçado, o prazer fingido. Tudo isso estava ali, a envenenar o que devia ser puro.
— Não consigo — murmurou ela, as lágrimas a queimarem-lhe os olhos.
Ele parou, afastou-se um pouco, o olhar cheio de preocupação.
— O que é que se passa?
Sofia abanou a cabeça, incapaz de encontrar as palavras. Como explicar que a prostituição lhe tinha roubado algo que nem sabia que tinha? Como explicar que o corpo dela já não era dela, que tinha sido vendido e comprado tantas vezes que já não conseguia sentir nada que fosse verdadeiro?
— Eu… eu não consigo sentir — confessou, a voz a tremer.
Ele ficou em silêncio por um momento, depois envolveu-a nos braços, num abraço que era mais do que físico. Era um abraço que tentava alcançar a alma dela, que tentava curar as feridas que ela nem sabia que tinha.
— Não tem de ser agora — sussurrou ele, os lábios a roçarem-lhe a testa. — Podemos esperar. Podemos tentar outra vez.
Sofia abraçou-o com força, como se ele fosse a única coisa que a mantinha à tona. E talvez fosse. Talvez ele fosse a única pessoa que podia ajudá-la a redescobrir o prazer, a redescobrir-se a si mesma. Mas sabia que não seria fácil. Sabia que o veneno da prostituição estava lá, a corroer-lhe o interior, a fazer-lhe duvidar de tudo, até do amor que ele parecia sentir por ela.
— Prometes? — perguntou, a voz quase inaudível.
Ele sorriu, um sorriso que era uma promessa, um sorriso que dizia que ele estava ali, que não ia a lado nenhum.
— Prometo.
E naquele momento, Sofia permitiu-se acreditar que talvez, só talvez, pudesse ser salva. Que talvez o veneno pudesse ser expurgado, que talvez pudesse voltar a sentir, a amar, a viver. Mas sabia que a estrada seria longa e dolorosa. E sabia que, por mais que ele tentasse, ele não podia fazer o trabalho todo sozinho. Ela teria de lutar, teria de enfrentar os demónios que a assombravam. E talvez, só talvez, pudesse encontrar a redenção que tanto procurava.